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Estudante conta como foi o período que passou no Chile

22 de Fevereiro de 2012

Emanuele Canale, estudante da 7ª fase do Curso de Pedagogia na Unoesc morou com os pais em Joaçaba até três anos atrás, quando começou a trabalhar no município de Luzerna, vizinho a Joaçaba, e mudou-se para lá. No semestre passando, se empolgou com a ideia de fazer um intercâmbio no exterior ao saber das oportunidades possíveis a partir dos convênios mantidos pela Unoesc com instituições de outros países.



O plano de Emanuele era cursar um Mestrado no exterior, mas, com a oportunidade batendo à porta, não hesitou. Resgatou um fundo de investimentos que tinha feito para se manter quando chegar ao Mestrado, pediu ajuda aos pais, deixou os medos de lado e foi para o Chile, onde passou cinco meses, entre agosto e dezembro. Durante esse tempo, cursou três disciplinas do Curso de Pedagogía en Educacíon General Básica na sede de Baquedano da Universidad del Pacífico (UPa), localizada na comuna de Providência na cidade de Santiago.



A experiência vivida por Emanuele é rica, seja em termos acadêmicos ou pessoais. Nesta entrevista, ela conta como foi viver em outro país, se adaptar à cultura local, o aprendizado na Universidade estrangeira, fala da Marcha pela Educação, movimento estudantil que ocorria no país e ela acompanhou de perto, e do crescimento que todas essas experiências lhe trouxeram.



Em que consistiu o intercâmbio?

Eu cursei três disciplinas da grade curricular do Curso de Pedagogía en Educacíon General Básica. Duas serão aproveitadas na minha graduação, Ética Educativa e Educacíon Artística. Já a disciplina de Sociedad y Desarrollo Humano cursei em função de que a ementa chamou minha atenção. É um assunto que gosto de trabalhar, contará como horas de curso. Elas não eram de um semestre ou período específico, por esse motivo eu “flutuava” entre as turmas, mas isso me possibilitou maior contato com os estudantes de todos os períodos do curso.



Onde ficou hospedada durante o tempo em que esteve no Chile?

Na primeira semana fiquei em um hotel, esperando que o quarto que aluguei ficasse livre. Quem me ajudou a encontrar um local foi outra estudante da Unoesc, que já estava no Chile. Ela me passou os contatos e reservei meu quarto numa república pelo facebook. Era uma casa, de três andares, com 10 quartos, três banheiros coletivos e duas cozinhas. Pagávamos uma quantia mensal que incluía o arrendamento, despesas de água, luz, gás, internet e limpeza. Na casa havia 13 pessoas. Eram de diferentes países: além dos brasileiros havia chilenos, mexicanos, alemães, estadunidenses e ingleses.



Como fazia para pagar tuas despesas pessoais?

Devido ao convênio entre a Unoesc e a UPa, não é necessário o pagamento das mensalidades à Universidade. Para manter as despesas de moradia e alimentação, eu e minha mãe resgatamos um fundo de investimento que havíamos feito pensando no mestrado. Quando acabou esse fundo, meus pais me enviavam uma quantia mensal. Sei que foi difícil para eles, que fizeram muita economia para me ajudar. Agradeço sempre o apoio que me deram. Se não fosse por eles eu não teria ido e enfrentado tudo sozinha.



O que pode destacar de aprendizado desse período?

Aprendi a lidar com a saudade, a dar ainda mais valor às amizades, a me virar sozinha… Mesmo morando fora de casa há tempo, enquanto eu estava no Chile foi bem diferente. Eu não podia correr para o colo da minha mãe a cada pouco para escutar os conselhos dela, receber um abraço e palavras de incentivo. Pouco nos comunicávamos, apenas uma ou duas vezes por semana em função de ela morar no interior e não ter internet em casa. Por incrível que pareça, na semana seguinte ao meu regresso conseguimos sinal via rádio. 

Além das experiências pessoais, que foram todas muito intensas, todo o conhecimento desenvolvido na universidade de lá foi muito importante. Decidi e fiz planos para o curso de mestrado que pretendo fazer. Os professores de lá sempre foram muito atenciosos e buscavam me ajudar, sempre estiveram disponíveis pra tirar dúvidas e me escutar quando eu precisava. 



O que mais te chamou atenção na cultural local?

Nossa! A cultura foi um choque! Tudo muito distinto: roupa, comportamento, culinária… Aos poucos fui me adaptando e conhecendo. O bom de participar do intercâmbio da Upa é que eles promovem a integração dos estrangeiros. Então conhecemos além da cultura chilena a cultura dos países dos outros intercambistas em noites típicas organizadas pela gente em conjunto com o pessoal de Relações Internacionais da universidade. 

Mas o que mais me chamou a atenção foi que o país e os cidadãos ainda tem uma visão muito machista. A mulher recebe menos, não pode engravidar em um período pré-determinado no momento da contratação no emprego, entre outras coisas. Eu não compartilho desse pensamento.



Durante o período em que esteve no Chile estava ocorrendo a Marcha pela Educação. Como foi acompanhar de perto um movimento estudantil dessa proporção?

Os estudantes universitários reivindicavam melhorias na educação universitária pública, já que naquele país predomina o ensino superior privado. O sistema educacional chileno foi implantado com a ditadura militar do presidente Pinochet. Os estudantes reivindicavam a troca por um modelo mais atual, com maior financiamento por parte do Estado e menor intervenção das instituições privadas. Como a Del Pacífico é uma universidade privada, não sofremos paralisações nas aulas. Eu não podia me envolver nos protestos ou manifestações, primeiro por conta do visto e do contrato que eu firmei com a Unoesc, e segundo em função de que eu não tinha nenhuma ligação que me fizesse lutar, era neutra naquela situação. Mas acompanhei tudo de perto, bem de perto. Morava próximo à Plaza Italia, na área de maior concentração das manifestações. Em várias noites ocorreram panelaços. O povo se reunia e fazia uma barulheira mesmo. Em faixas traziam a inscrição “Si no no dejan soñar, no los dejaremos dormir”, que significa “Se não nos deixam sonhar, não os deixaremos dormir”. E o grito de protesto era: “Y vá caer, y vá caer la educación de Pinochet”, que em português quer dizer “E vai cair, e vai cair a educação de Pinochet”.


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